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    Kanitz: A Razão do Fracasso de Eike Batista

    9 de junho de 2013

    Outro excelente texto onde se descreve de forma muito coerente por que o império “X” segue ladeira abaixo há alguns anos. Vale a pena conferir:

    “Assim que Eike monta o quebra-cabeça do seu projeto, escolhe a equipe, delega todas as etapas de execução, ele perde o interesse no projeto e parte para outro.”

    Eu já escrevi falando bem do Eike Batista mostrando que o sucesso dele não é porque herdou o mapa da mina do pai dele, como corre na lenda urbana.

    Eike sabe criar projetos complicados, que requerem muita infraestrutura em locais inóspitos. Ele sabe escolher equipes e sabe deixá-los trabalhar sozinhos.

    “O que Eike soube fazer foi agregar todos os componentes necessários e fazer disto um projeto viável, e de fato tudo começou com um PowerPoint.”

    “Sabe trazer energia, estradas, financiamento, equipamentos para lugares considerados “fim do mundo“.”

    “O pai de Eike o ajudou com os genes. O gene da inteligência, o gene de pensar grande, o gene de acreditar no Brasil como um país do futuro e do presente.“

    Mas aí eu escrevi algo que hoje me arrependo, estava parcialmente certo.

    “Eike Batista é daqueles que têm iniciativa e acabativa“.

    Ele é alguém que tira ideias do papel.

    Mas o conceito de acabativa é um pouco mais amplo do que isto, e agora sabendo o que vou relatar, a frase não se aplica ao Eike.

    Nas acusações que saíram na imprensa com os problemas de Eike Batista, um funcionário fez este comentário:

    “Assim que Eike monta o quebra-cabeça do seu projeto, escolhe a equipe, delega todas as etapas de execução, ele perde o interesse no projeto e parte para outro.”

    Tipicamente, ele tem um comportamento de quem é um iniciativo puro, alguém que é criativo, um acadêmico.

    Esta frase caiu como um raio, porque eu sou muito parecido.

    Eu sou um iniciativo por excelência, curto ideias, montar projetos, resolver quebra-cabeças.

    Mas implantá-los não é minha praia, eu já implantei várias coisas, mas a um custo psicológico monumental.

    O dia a dia para mim é uma chatice como é para muito intelectual.

    Uma vez que eu sei que uma solução é possível, eu fico feliz, e acho ingenuamente que os mais acabativos do que eu vão seguir em frente.

    Ledo engano.

    Mas infelizmente eu perco interesse e já fico procurando outro problema cabeludo para resolver.

    Foi assim que Eike se meteu em 30 projetos diferentes.

    Desde hotéis, restaurantes chineses e shows de entretenimento, além de estaleiros, portos, mineradoras e exploração de petróleo.

    Eike pode até ter acabativa no sentido restrito da palavra, mas não é, pelo jeito, o que ele gosta de fazer. Ele é um iniciativo por definição.

    Portanto, a culpa do seu fracasso nao é totalmente dele.

    Boa parte da culpa é daqueles que o financiaram, do BNDES, do BTG, do Banco Itaú, dos milhares de investidores minoritários.

    Todos estes acabaram permitindo que Eike fosse majoritário nos seus projetos, o que diante da análise acima não é a melhor estratégia.

    Um majoritário que se interessa pelo seu próximo projeto, não é um bom majoritário do projeto existente.

    Manter Eike mandando nos seus projetos apesar de não gostar da fase operacional, somente da fase de projeto e implantação, foi um erro que poderia ter sido facilmente evitado.

    E que agora será implantado, já que certamente Eike perderá o controle de suas empresas, o que deveria ter sido imposto pelos seus banqueiros desde o início.

    Eike foi bom na hora de prospectar e achar petróleo, mas na hora de extrair o petróleo os seus problemas começaram.

    As equipes que acham petróleo não são as melhores para extrair o petróleo.

    Como começarão a ter problemas operacionais as demais empresas do Eike, terminada a fase de projeto.

    Numa entrevista para a Revista Exame, há alguns anos atrás, ele dava 15 conselhos. O 12o. era:

    “Cuide de todos os aspectos do projeto” e não cuide de todos os aspectos de seu negócio. Prenúncio do que iria acontecer.

    Mas reforça o diagnóstico de iniciativo de Eike.

    Aliás, ele disse uma frase que deveria ter sido melhor analisada na época: ”Nunca se apaixone pelo seu negócio“.

    Uma frieza de quem não está alinhado com a empresa do ponto de vista operacional e que no fundo está disposto a vender tudo quando o preço de venda do negócio estiver certo.

    É fácil analisar vendo o retrovisor, mas fica agora claro que Eike desde o início deveria ter sido um sócio minoritário de suas empresas.

    Um sócio controlador que não está apaixonado pelo negócio, é encrenca na certa.

    Alías, todo mundo sabia que Eike não é formado em Administração, não tem os conhecimentos necessários e a postura de um acabativo.

    Eike é engenheiro, especialista portanto em projetos e sistemas.

    Isto explica porque o Presidente do Itaú, também formado Engenheiro, se encantou tanto com os projetos de Eike Batista.

    Isto explica porque o Presidente do BNDES, que também pensa grande mas não é Administrador formado, se encantou com os projetos de Eike Batista.

    Isto explica porque o Presidente do BTG, também formado em Sistemas, se encantou com os projetos de Eike Batista, e agora como os demais está se arrependendo ou se lamentando do erro feito.

    Os Powerpoints do Eike Batista não teriam cativado tanto os banqueiros formados em administração de empresas, conhecedores dos problemas do dia a dia.

    Meu ponto aqui é mostrar que ele não é culpado inteiramente pelo seu fracasso.

    Foi vítima de um país tão despreparado como ele, nas questões mais mundanas de que projetos precisam ser um dia tocados por pessoas com acabativa e não sonhadores de projetos grandes que vão salvar o Brasil e o mundo.

    Algo para se pensar.
    blog.kanitz.com.br/eike-batista

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    Até o próximo post.