Saúde suplementar teve seu terceiro ano consecutivo de déficit e procura maneiras de reduzir gastos 一 mesmo com projeção de crescimento de 3,9%.
Segundo a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o número de pessoas com plano de saúde no país deve crescer em 2024. Com alta de 3,9%, a expectativa é que o mercado feche o ano com 53,2 milhões de adesões 一 o que representa 24,82% da população. Apesar da projeção, a realidade dos convênios não é tão promissora quanto parece.
2023 foi o terceiro ano consecutivo no qual a saúde suplementar teve déficit, com R$ 6,3 bilhões de perdas até o terceiro trimestre. Entre os principais motivos está a judicialização, representando uma fatia de 40% do déficit 一 dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que 125,4 mil casos foram levados à justiça, com um aumento no tempo de tramitação para 437 dias, ou seja, mais dois meses aguardando a resolução.
Para completar, um estudo do BTG aponta que os planos de saúde tiveram um reajuste de médio 25% nas mensalidades 一 muito acima da alta da inflação, que fechou o período em 4,62%. Estes custos crescentes fizeram a procura por portabilidade de carências crescer 13,5%, como apontado por levantamento da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Hoje, o setor tem perspectivas de aumento de clientes por um motivo: a recuperação do mercado de trabalho. Afinal, a Abramge aponta que 80% dos contratantes de convênios são pessoas jurídicas.
“Além do fato do emprego ser a principal porta de acesso ao plano de saúde, preencher as vagas em aberto tem ficado mais difícil, o que levou as empresas a melhorar a oferta de benefícios e um dos mais valorizados pelos trabalhadores é o plano de saúde”, conta Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge.
Redução de custos é o principal desafio dos planos de saúde
Segundo a ANS, 40% dos brasileiros que buscam mudar de plano de saúde o fazem para mudar para um convênio mais barato. Outros 21% optam pela troca devido à qualidade da rede prestadora, que gera insatisfações. Não é à toa que o setor passa pelo período mais difícil dos últimos 25 anos, como apontado por Vera Valente, diretora-executiva da FenaSaúde. “Medidas que resguardem o caixa das operadoras se fazem obrigatórias para o bem de toda a cadeia de prestação de serviços da saúde privada”, explica em coluna na Veja Saúde.
Valente explica que combater fraudes, diminuir desperdícios e avaliar gastos indevidos pode ajudar a diminuir os custos em até 10%. “A alta pronunciada, excessiva e às vezes abusiva dos custos de saúde faz com que todos os elos da cadeia percam, menos os fornecedores de insumos e medicamentos, cada vez mais caros”, conta.
Para André de Barros Martins, VP Sênior de Benefícios da Alper Seguros, o último ano foi marcado por mudanças significativas e desafios para o setor. “Isso exigiu das operadoras e empresas uma adaptação estratégica e gestão eficiente para enfrentar os novos desafios e aproveitar as oportunidades em um cenário em constante evolução”, diz.
Como reduzir custos na saúde suplementar?
Valente apontou a importância da redução de despesas para ajudar a lidar com a atual conjuntura. Implementar uma cultura orientada a dados é a chave para tomar decisões estratégicas e mais assertivas. Segundo estudo da Harvard Business Review, 48% das empresas que se tornaram Data-Driven diminuíram os seus gastos.
Por conta disso, cada vez mais as ferramentas para gestão de custos têm sido usadas para ajudar a proporcionar economia para o caixa das organizações. A ideia é entender quais os padrões de uso, como as mesmas se comportar e ver se algo está sendo subutilizado e otimizar custos 一 ou seja, a operadora pagará apenas pelo que usa, evitando desperdícios.
Completando, ter uma gestão orientada a dados dá melhor visão das condições dos equipamentos e instalações. Entender quais são subutilizados, quanto é necessário para manter o necessário para a boa operação do plano de saúde é uma das principais vantagens desta mentalidade nas empresas.
Segundo Martins, ter uma gestão eficaz exige o reconhecimento de todos os riscos envolvidos e ter a prevenção primária como componente chave. “A promoção da saúde, prevenção, gestão de doenças e manejo de casos graves são ações estruturadas fundamentais para enfrentar os desafios do setor”, explica.
Já Valente liga o sinal de alerta para a importância desta redução para o setor. “Passos em falso podem determinar o fim da saúde privada no país tal como a conhecemos hoje, com efeitos danosos também sobre a saúde pública, que, sem condições e sem orçamento, teria de absorver uma enorme demanda adicional”, avisa.